domingo, 13 de novembro de 2011

                                                               Memória 

   Amar o perdido
   deixa confundido
   este coração.
   Nada pode o olvido
   contra o sem sentido
   apelo do Não.
   As coisas tangíveis
   tornam-se insensíveis
   à palma da mão
   Mas as coisas findas
   muito mais que lindas,
   essas ficarão.

terça-feira, 1 de novembro de 2011



Em sua homenagem, uma estátua de bronze está sentada placidamente num banco do Posto 6 da Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, bairro em que viveu por muitos anos. Era lá que ele ficava nos finais de tarde, pensando e escutando o barulho do mar. “No mar estava escrita uma cidade” (Drommond).

O melhor de Carlos Drummond de Andrade

Infância



Neste vídeo, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade recita seu poema "Infância"

QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
   
            Carlos Drummond de Andrade

 Comentários feitos pela equipe organizadora do blog:


Anderson de Souza:  A realidade das pessoas no mundo atual em relação aos sentimentos. O amor torna-se algo parcial e temporário. A partir do próprio título “Quadrilha", que mostra a troca de  parceiros na dança, assim como o amor entre as pessoas da atualidade. Vivem sempre trocando, muitos em busca da pessoa certa, mas a maioria por diversão, por sentimentos superficiais e que não querem um relacionamento sério.

Paulo Sérgio:  Ao mesmo tempo que nos traz uma dose de humor, faz também uma crítica social, que pode ser relacionada a juventude que diz que ama uma pessoa e na verdade não ama ninguém, só está ficando com um e outro, como na quadrilha.

Wasley Jonathan:  É um poema que retrata e faz críticas usando uma paródia sobre o amor.
Utilizando aquela velha frase " quem eu amo não me quer, quem me quer eu não amo". Usando essa frase, Drummond satiriza o jeito de amar do ser humano.


Nascer de Novo

 “Nascer: findou o sono das entranhas.
Surge o concreto,
a dor de formas repartidas.
Tão doce era viver
sem alma, no regaço
do cofre maternal, sombrio e cálido.
Agora,
na revelação frontal do dia,
a consciência do limite,
o nervo exposto dos problemas.

Sondamos, inquirimos
sem resposta:
Nada se ajusta, deste lado,
à placidez do outro?
É tudo guerra, dúvida
no exílio?
O incerto e suas lajes
criptográficas?
Viver é torturar-se, consumir-se
à míngua de qualquer razão de vida?”

Carlos Drummond de Andrade


Análise: Esse texto nos mostra a beleza e a maturidade de versos como [a dor de formas repartidas] ou [o nervo exposto dos problemas]. Também a grandiosidade das perguntas no final da segunda estrofe, dentre as quais [Viver é torturar-se, consumir-se/ à míngua de qualquer razão de vida?]. Isto apenas demonstra que o poeta, ao longo de sua existência e da publicação de seus livros, nos trouxe um manancial fabuloso da melhor poesia, construiu um caminho por onde trafegamos comovidos, estarrecidos, dissolvidos, absorvidos por versos que nos contaminam com uma percepção clara e rara de ver as coisas.

Aroldo Ferreira Leão

Linha do tempo das obras de Drummond

 
POESIA
·      1930 - Alguma poesia
·      1934 - Brejo das almas
·      1940 - Sentimento do mundo
·      1942 - José
·      1945 - A rosa do povo
·      1948 - Novos poemas
·      1951 - A mesa
·      1951 - Claro enigma
·      1952 - Viola de bolso
·      1954 - Fazendeiro do ar
·      1955 - Soneto da buquinagem
·      1957 - Ciclo
·      1959 - A vida passada a limpo
·      1962 - Lição de coisas
·      1964 - Viola de bolso II
·      1967 - Versiprosa
·      1967 - José & outros
·      1968 - Boitempo & A falta que ama
·      1968 - Nudez
·      1969 - Reunião
·      1973 - As impurezas do branco
·      1973 - Menino antigo (Boitempo II)
·      1977 - A visita
·      1978 - O marginal Clorindo Gato
·      1979 - Esquecer para lembrar (Boitempo III)
·      1980 - A paixão medida
·      1983 - Nova reunião
·      1984 - Corpo
·      1985 - Amar se aprende amando
·      1986 - Tempo vida poesia
·      1988 - Poesia errante
·      1996 - Farewell
Antologias poéticas
·      1956 - 50 poemas escolhidos pelo autor
·      1962 - Antologia poética
·      1971 - Seleta em prosa e verso
·      1975 - Amor, amores
·      1982 - Carmina Drummondiana
·      1987 - Boitempo I e Boitempo II
Infantis
·      1983 - O elefante
·      1985 - História de dois amores
Edições de poesia reunida
·      1942 - Poesias
·      1948 - Poesia até agora
·      1954 - Fazendeiro do ar & Poesia até agora
·      1959 - Poemas
·      1969 - Reunião
·      1983 - Nova reunião
·      1997 - Coleção Verso na Prosa Prosa no Verso
·      1997 - Coleção Mineiramente Drummond - A palavra mágica
PROSA
·      1944 - Confissões de Minas
·      1945 - O gerente
·      1951 - Contos de aprendiz
·      1952 - Passeios na ilha
·      1957 - Fala, amendoeira
·      1962 - A bolsa & a vida
·      1966 - Cadeira de balanço
·      1970 - Caminhos de João Brandão
·      1972 - O poder ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso
·      1974 - De notícias & não-notícias faz-se a crônica
·      1977 - Os dias lindos
·      1978 - 70 historinhas
·      1981 - Contos plausíveis
·      1984 - Boca de luar
·      1985 - O observador no escritório
·      1987 - Moça deitada na grama
·      1988 - O avesso das coisas
·      1989 - Auto-retrato e outras crônicas
CONJUNTO DE OBRA
·      1964 - Obra completa
ANTOLOGIAS DIVERSAS
·      1965 - Rio de Janeiro em prosa & verso (em colaboração com Manuel Bandeira)
·      1966 - Andorinha, andorinha, de Manuel Bandeira
·      1967 - Uma pedra no meio do caminho (Biografia de um poema. Com estudo de Arnaldo Saraiva)
1967 - Minas Gerais