terça-feira, 1 de novembro de 2011

Presença do cotidiano e crítica social em Carlos Drummond de Andrade


A obra de Carlos Drummond de Andrade é sedimentada em múltiplos temas e numa riqueza de expressão. Nesse ensaio, nosso interesse estará delimitado em três aspectos inerentes à sua expressão poética: a consciência social, a metapoesia e as relações entre a expressão poética e os elementos do cotidiano. Utilizar-nos-emos do método interpretativo, a partir do intrínseco literário. Alfredo Bosi reconhece em Carlos Drummond de Andrade a captação de um “hiato entre o parecer e o ser dos homens e dos fatos que acaba virando matéria privilegiada de humor”, sendo esse um traço permanente em sua obra poética. Acrescenta ainda que “desde Alguma Poesia foi pelo prosaico, pelo irônico, pelo anti-retórico que Drummond se firmou como poeta congenialmente moderno.
Quanto à visão de mundo, seria ela tomada por um ar “negativo na medida em que se ensombra com os tons cinzentos da acídia, do desprezo e do tédio, que resulta na irrisão da existência”. A propósito disso, Hugo Friedrich vê “o poeta moderno muito mais exatamente com categorias negativas do que com positivas” na medida em que se opõe a urra lírica passadista e, ao mesmo tempo, está diretamente relacionada a sua poética à fragmentação de um tempo cuja gênese reside no caos.
Tendo sua poesia atrelada ao espírito moderno, Carlos Drummond de Andrade, já em Alguma Poesia, lança, com aguda lucidez, o seu olho sobre a estupidez do dia-a-dia, que serve de espaço a um estranho emaranhado de coisas e de seres, fatalmente condenados ao absurdo, conforme os versos de “Cidadezinha Qualquer”:
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.

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